Arquivo da categoria: Política Ambiental

O Patriomanismo

por  Cristovam Buarque, colaborador, professor e senador

No começo dos anos 1980, publiquei um artigo no Jornal de Brasília, com o título “O Alasca Verde”. Nele, alertava para o risco da venda da Amazônia como forma de pagar a dívida externa, nos mesmos moldes do que ocorrera em 1867, quando a Rússia vendeu o Alasca para os EUA. Em 2005, escrevi outro artigo no Jornal do Commercio, com o título “Alasca Deserto” dizendo que a troca da dívida ainda não tinha se realizado, mas que, naquele intervalo de tempo, parte considerável da floresta fora destruída. Como se disséssemos ao mundo que a Amazônia é nossa e temos o direito de destruí-la.

Chegamos a 2008, e a Amazônia continua sob cobiça internacional. Com o aquecimento global, nossas florestas se tornaram uma reserva que precisa ser mantida. A incorporação da Amazônia, por uma nação ou pela comunidade internacional, passou a ser defendida por alguns, como único modo de preservá-la.

Não há dúvida quanto ao nosso direito de preservar o território amazônico. Não podemos abrir mão desse direito, nem do compromisso para com as gerações futuras. Os brasileiros não perdoarão os governantes que contribuírem para perdermos a soberania sobre a Amazônia. Mas isso não nos dá o direito de destruir a floresta, como temos feito.

A Terra é um imenso condomínio, cada país com soberania e responsabilidades, como moradores de apartamentos. Os países não podem usar sua soberania contra os interesses dos outros. Os EUA, a Europa e a China não têm o direito de continuar destruindo a natureza com a avidez da indústria que atende à orgia consumista. O efeito estufa deriva muito mais da imensa produção industrial dos países ricos do que da destruição da Amazônia. Mesmo assim, os EUA continuam se negando a assinar o Protocolo de Kyoto, que tenta colocar um mínimo de disciplina no processo industrial do mundo.

Não podemos seguir o péssimo exemplo deles. Precisamos demonstrar que a Amazônia é nossa e por isso devemos protegê-la como patrimônio brasileiro e da humanidade, e não apenas como um território. Mas cuidando para não transformá-la em deserto.

Lamentavelmente, isso será difícil. As estatísticas mostram que as reservas florestais da Amazônia caminham rapidamente para o desaparecimento. De um lado, líderes civis e empresários defendem a exploração do que ainda existe. De outro, a estratégia é proteger a Amazônia ocupando-a o mais rápido possível, mesmo que isso signifique destruir da floresta. Um grupo pensa que é melhor transformar suas árvores em madeira e dinheiro, e suas terras em commodities, como a soja ou o etanol, do que conservar a floresta. São os patriotas gananciosos. Outro considera melhor um território desértico soberano do que uma floresta sob influência estrangeira: são os patriotas suicidas. Por outro lado, há ONGs e sertanistas dispostos a abrir mão da soberania para manter a floresta. São o humanistas antipatriotas.

A destruição da Amazônia ocorre sobretudo por falta de determinação nacional de optar por um desenvolvimento que respeite e mantenha o patrimônio brasileiro e da humanidade. A soberania não deve ser apenas territorial, mas também patrimonial. Nesse caso, a conservação é uma condição básica da soberania. E não somente para o Brasil, mas para toda a humanidade.

Transformar a nossa Amazônia em deserto é tão grave quanto entregá-la. A Amazônia não pode ser um Alasca Verde, como se dizia há 25 anos, nem um Alasca Deserto, como ela começa a parecer. Para isso, é preciso combinar patriotismo e humanismo, e inventar no Brasil o “patriomanismo”.

Nossa e Sempre

por  Cristovam Buarque, colaborador, professor e senador

Nas últimas semanas, diferentes personalidades começaram a defender a idéia de que a floresta amazônica é um assunto de interesse de toda a humanidade e que nós brasileiros somos incapazes de protegê-la. Como conseqüência lógica surge a proposta de sua internacionalização: deixar de ser brasileira. Se ela é do interesse da humanidade, caberia à humanidade, e não ao Brasil, preservá-la. 

É surpreendente a hipocrisia de defender a internacionalização da Amazônia por razões humanitárias, esquecendo de defender a internacionalização de recursos igualmente importantes para a humanidade. Defendem a internacionalização para proteger as árvores, mas não defendem internacionalizar os pobres do mundo, para salvar suas vidas. Cada árvore é importante, mas cada vida também. Se vamos defender a internacionalização das árvores para que não sejam derrubadas, internacionalizemos cada ser humano para que não morra de fome.

Como defender a internacionalização da Amazônia sem defender a internacionalização de todas as crianças, para que nenhuma delas seja abandonada, seja porque seu país é pobre, ou porque seus governantes são corruptos. Que humanismo é este que se preocupa em tomar uma parte do Brasil para que as florestas sejam conservadas, mas não se preocupa com a proteção das crianças de Darfur?

As emissões de dióxido de carbono que esquentam o Planeta decorrem, sobretudo, do uso de um bilhão de automóveis que circulam no mundo. Para a humanidade, tão importante quando aumentar o número de árvores nas florestas é diminuir o número de carros nas ruas. Deveríamos submeter à decisão internacional o número máximo de automóveis a serem produzidos por ano em cada país. E por que não internacionalizar também os poços de petróleo, para evitar a queima desse combustível fóssil que degrada nossa atmosfera?

A idéia de defender a internacionalização da Amazônia para evitar que suas árvores sejam derrubadas fica ridícula quando não se propõe internacionalizar o capital financeiro do mundo que circula pelas bolsas de valores como verdadeiras motosserras cortando países inteiros.

Enquanto o mundo inteiro não for internacionalizado, a Amazônia é nossa. E só nossa.

Mas é preciso que seja de todos: os brasileiros de hoje e do futuro. A Amazônia é nossa, mas tem que ser nossa para sempre, não apenas agora. Isso exige a defesa de sua soberania e a defesa de sua sustentabilidade. Como dizia Jefferson Peres, é preciso defender a Amazônia contra a ambição que vem de fora, e também contra a voracidade aqui de dentro.

Sendo nossa, ela tem que ser cuidada para sempre: servir às gerações futuras. Para tanto, é preciso definir áreas de reserva onde suas florestas serão conservadas: derrubar árvores nestas áreas deve ser considerado crime hediondo, de traição à Pátria e contra a humanidade. Em outras áreas, o uso da floresta deve ser sob a condição de manter a sustentabilidade. É preciso um “royalty verde” que cobre dos que exploram combustível fóssil dos subterrâneos do solo, para financiar os que conservam as árvores. Precisamos estabelecer um dia nacional da consciência de defesa da Amazônia, para, a cada ano, toda criança aprender a conhecer nossa riqueza florestal, amá-la, e adquirir o compromisso de defendê-la. Inclusive entendendo que o Brasil é parte de um condomínio chamado Terra. Patriotas com humanismo.

Sem a demonstração de nossa capacidade para defendê-la, a Amazônia corre o risco de ser tomada; sem nosso compromisso de protegê-la, ela corre o risco de ser de ninguém.

ESPELHO TRINCADO

por  Raphael Bruno, colaborador, jornalista e cientista político

A saída de Marina Silva do comando do Ministério do Meio-Ambiente pode ser entendida como uma pequena eclosão das muitas contradições sobre as quais se sustenta o governo Lula. Os elevados índices de popularidade do presidente tendem a camuflar as muitas tensões que envolvem a manutenção de um governo marcado pela conciliação de interesses divergentes. O equívoco estratégico daqueles que historicamente se dispõem a tal tarefa, típica manifestação prática do fenômeno político do populismo, é não enxergar quão frágil e efêmera é a conciliação temporária. Isso porque, em termos de política, ela nunca é plena, e sempre envolve relações de hegemonia.

Neste sentido, a dinâmica do Ministério do Meio-Ambiente com a totalidade do governo funcionava como uma espécie de microcosmos do equilíbrio de forças do próprio governo. Marina representava determinado grupo de interesses, em sintonia com a agenda ambiental, que se colocava de frente a outros interesses conflitantes do governo, quais sejam, os investimentos em infra-estrutura como mecanismo de impulsão do crescimento econômico. Um crescimento que não podia arcar com os custos do desenvolvimento sustentável, como deixaram tão claro Lula e a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, ao cobrarem publicamente agilidade na concessão de licenças ambientais para a construção de gigantescas hidrelétricas.

O interessante é notar como o equilíbrio é permanentemente tensionado por essas contradições. E como, eventualmente, levam a rupturas. Como um espelho trincado sob a permanente necessidade de cuidados. Lula costuma ser assustadoramente bom na capacidade de articular remendos. A impressão que fica é a de que Lula só não apagou o incêndio Marina Silva porque não lhe interessava o suficiente. Ou seja, Marina havia se tornado um empecilho concreto para outra agenda, conflitante com a dela, que necessita ser levada adiante com relativa intensidade.

Mais interessante ainda é constatar que a agenda ambiental não é nem de longe o único ponto de possíveis rupturas deste governo. Nem o mais explosivo. Um governo que abarca em seu interior, em maior ou menor medida, de Henrique Meirelles a PcdoB, de superávit primário ostensivo a Bolsa Família, de bons relacionamentos com Bush a Chavez, de banqueiros a MST, de Delfim Neto a Márcio Pochmann, é um governo sob constante ameaças de incêndios. Estes só não se concretizam com mais freqüência devido à incapacidade dos grupos sob dominação nestas diversas relações conflitantes de enxergar os processos hegemônicos que se configuram no interior do governo. De perceberem que, em dimensões diferenciadas, eles são a Marina Silva da Dilma Roussef. E, principalmente, de aceitar o jogo e se darem por satisfeitos com as parcas concessões que lhe são feitas. Pela capacidade que eles tem de abrir mão de um projeto autônomo. Pagam caro por isso. Marina pagou. Derrotada em praticamente tudo que de importante defendia ali dentro, cansou. Seu legado foi ter dado legitimidade, por tempo demais, a um governo que atacava acintosamente o que mais lhe era valioso. Fica a lição.

Básico só no nome

por  Walder Junior, colaborador 

A ONU provou e comprovou que a cada 1 real gasto em saneamento são 4 reais economizados em gastos com saúde. Não é a toa a epidemia dengosa que assola a antiga capital da república, e não é a toa que nós compactuamos com boa parte dessa culpa.

Bom, ao ritmo que vamos, aqui no Brasil, seria necessário 56,5 anos para atingir a meta da ONU para redução da extrema-pobreza. 51,5% dos domicílios não tem acesso à rede de esgoto e o crescimento deste acesso é de 1,59% ao ano. Seria necessário aplicar 0,63% do PIB ao ano para que todos tivessem acesso ao tratamento e à coleta de esgoto no país, hoje são aplicados 0,22%.

A tragédia da queda de um avião com 200 pessoas, matando todos a bordo, definitivamente é uma tragédia, mas isto acontece todos os meses com crianças de 0 a 6 anos no Brasil por falta de saneamento básico.

Peço, encarecidamente, que nessas eleições municipais nos atentemos para questões esquecidas mas de vital importância para a população.

Atenção! Sem saneamento não há educação e nem desenvolvimento. Este ano é o ano internacional de saneamento e saúde, que o PAC pense nisso!

Fonte: Trata Brasil (FGV) e PNUD

Y Ikatu Xingu

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foto: Orlando Britto

A expressão, na língua Kamaiurá (Kamaiurá é um dos povos xinguanos) quer dizer “Água Boa, Água Limpa do Xingu ”.

Em meados nos anos 1990, as lideranças do Parque Indígena do Xingu, no nordeste de Mato Grosso, manifestaram sua preocupação com a situação da ocupação e do desmatamento no seu entorno e com assoreamento dos rios que cortam a área.

O Parque Indígena do Xingu é um dos maiores símbolos da diversidade sócio-cultural e biológica do Brasil. Criado em 1961, é uma das terras indígenas mais conhecidas do País, abrigando 14 etnias e cerca de cinco mil pessoas. A criação do Parque resultou do trabalho dos mais importantes sertanistas brasileiros, entre eles os irmãos Villas-Bôas.

O ISA (Instituto Socioambiental), que atua na região desde 1994, por meio do Programa Xingu, incorporou a questão e desenvolveu a idéia juntamente com vários parceiros – índios, fazendeiros, agricultores familiares, pesquisadores, organizações da sociedade civil entre outros.

As nascentes ficam do lado de fora do parque do Xingu e desaguam dentro dele, escorrem para ele. Como estão localizadas fora do parque, estas nascentes sofrem com o problema de desmatamento, próximas à cidades e sem proteção.

Eu sei que temos visto os descasos com o cidadão e às vezes nos sentimos desamparados, epidemia de dengue no Rio de Janeiro, abandono de estradas, roubalheira, mas se tem uma coisa que caracteriza este povo é a solidariedade, a vontade de ajudar, o jeito que encontramos para resolver problemas. O engraçado, ou felizmente, é que na maioria das vezes camapanhas como esta do Xingu tem como fonte de financiamento embaixadas, organizações internacionais e fundações estrangeiras.

Participe! http://www.yikatuxingu.org.br

Roda Viva

A TV Cultura e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) assinaram, no dia 14 de junho de 2007, um acordo de cooperação que coloca no ar o Portal Roda Viva/Fapesp. O novo site, em caráter experimental, permitirá o acesso às transcrições das entrevistas realizadas no Roda Viva nos últimos 21 anos, na íntegra.

No Portal, o internauta também poderá pesquisar temas que foram abordados e/ou citados durante os programas, por meio de um mecanismo de busca que identifica palavras-chave. Além disso, será possível assistir trechos das entrevistas.

O Portal disponibilizará as transcrições das entrevistas, que somam mais de mil personalidades e temas que estiveram no centro do Roda Viva. Lá, podemos rever a entrevista do então, sem cargo, Luíz Inacio LULA da Silva criticando FHC e falando de seu amadurecimento político. Outras entrevistas como a do próprio FHC, como presidente da república, fazendo um balanço de seu segundo mandato. Fernando Collor de Melo, Cristovam Buarque, Telê Santana, Darcy Ribeiro, Steve Ballmer, Raúl Alfonsín, Paulo Francis, Roberto Jefferson entre outros.

Vale a pena dar uma olhadinha e rever estas entrevistas com formadores de opinião e personalidades do Brasil e do mundo. Você vai ver e ouvir coisas interessantes e coisas não tão interessaaaaaaaantes assim.

http://rodaviva.fapesp.br

Uma tribo chamada Canadá

por  Walder Junior, colaborador, analista de sistemas e blogueiro 

Outro dia, comendo uma deliciosa carne de sol com minha família, ao pegar um pedaço de mandioca daquelas que estão derretendo, meu pai disse: “Graças aos índios podemos comer esta maravilha.”

O que foi ou o que é feito com nossos verdadeiros BRASILEIROS ? Lembro-me das aulas de história do Brasil no primeiro grau e lembro claramente do quão chata era a parte que falava sobre nossos índios, pelo menos pra mim. Nossos índios… os quais só vim prestar à atenção, digo isso sinceramente, quando alguns jovens de classe média de Brasília, no auge de minha adolescência, atearam fogo a um representante da tribo Pataxó que dormia no ponto de ônibus.

Meu Deus, não basta o extermínio proposital, violento e epidemiológico de mais de 700 povos indígenas desde o descobrimento, temos que tratá-los mal, com indiferença, tirar vantagem, como se não fôssemos parte deles, da vida, do sague?

Esta semana li uma matéria no Correio Braziliense que retrata exatamente a tentativa de sedução do índio, pelo “homem branco”. Não se trata mais de espelhos, penduricalhos, roupas, mas sim viagens ao Canadá. Uma comitiva da Comissão Especial de Mineração em Terras Indígenas esteve em Roraima para convencer uma tribo Yanomami a liberar a exploração de minério de ferro em suas terras. A denúncia foi feita pelo intérprete Davi Kopinawa que acompanhou a comitiva. Davi afirmou que convidaram o cacique para ir ao Canadá ver como é feita a exploração do minério.

Os deputados mencionados são: Eduardo Valverde (PT/RO), Édio Vieira Lopes (PMDB/RR) e Márcio Junqueira (DEM/RR).

Será que no canadá tem mandioca ? e Escondidinho ?

Alcool na estrada? só se leva fumo!

Tudo bem que a idéia de proibir a venda de bebidas alcoólicas às margens das rodovias pode, em tese, diminuir os acidentes causados pelo consumo de álcool.

Mas se o caminho for pela proibição, porque a venda de cigarros é permitida?

Alguns estudos indicam que 25% das queimadas são iniciadas por pontas de cigarro, muitas delas, jogadas na beira de estradas. Além disso, sabe lá quanto tempo demora para o filtro do cigarro se decompor.

Se o consumo de álcool está relacionado diretamente com os acidentes de trânsito, as queimadas estão também diretamente relacionadas com o aquecimento global.

E depois… Todo mundo sabe que fumar sem uma cervejinha pra acompanhar não tem graça nenhuma.